quarta-feira, 2 de abril de 2008

O dia mais feliz...


O dia mais feliz da minha vida aconteceu quando eu tinha uns oito anos de idade. Não foi um daqueles dias em que acontecem coisas grandiosas e extraordinárias. Foi apenas um dia comum, na casa da vovó, brincando com as primas e, para mim, isso bastou para que o dia recebesse o nome de: mais feliz da minha vida...

No dia anterior ao dia mais feliz eu, minha irmã Larissa, minha prima Janaína e nossa amiga Elizete, resolvemos fazer o batizado da boneca desta última. Boneca muito querida entre todas nós, era imprescindível que fizéssemos seu batizado e, ora, também era uma boa desculpa para fazer uma brincadeira bem divertida. Nas nossas idades, era muito comum fazer aniversários e batizados de bonecas. Digamos assim que, era a última moda, em se tratando de brincadeiras femininas (que os meninos não se importavam de participar, principalmente pelas guloseimas grátis).

O dia seguinte foi minuciosamente planejado e esperado com bastante ansiedade. Mal cabíamos em nós de tanta vondade de viver logo aquilo.

Acordamos cedo. Planejamos ir à missa e a nossa prima mais velha, Janaína, foi responsabilizada de nos levar. A "bem mais velha" tinha então 12 anos. Eu nunca fui de gostar de missa mas, quando a gente é criança e as coisas têm cara de brincadeira, a gente gosta de tudo, até de ir ao dentista. Ainda mais que, era uma dessas ocasiões raras em que minha mãe não estava presente para nos dizer o que fazer o tempo todo.

Na volta, fomos conversando sobre os últimos detalhes e, assim que chegamos, fomos atrás de cuidar dos preparativos.

Quando já estava tudo pronto, já era hora do almoço. Fome de criança é uma coisa que não tem fim. E, nossa... como o almoço estava bom naquele dia. Um fato até curioso, se considerarmos que minha avó não cozinha lá muito bem... Mas, isso é apenas um detalhe...

Ficou combinado que, cada uma ia levar a metade do almoço, pra gente terminar de comer lá no batizado. O que foi um pouco difícil pra mim pois, como eu já disse, a comida estava ótima. Mesmo assim, eu pedi pra minha mãe guardar o que eu tinha deixado no prato.

Da casa da minha avó, nós fomos nos encontrar na casa de Janaína, que ficava ao lado. Fomos fazer o bolo da festa. Sem bolo não dá, né?

O local escolhido para batizar a boneca foi a sombra de um pé de caju. A gente gostava bastante de lá. E, de vez enquando, a gente fugia pra lá e ficava horas brincando.

Nós levamos um banquinho, pra servir de mesa, metade do almoço de cada uma, um pacote de biscoitos e o bolo feito de uma mistura de pão, leite e açúcar (não estava muito bom mas, ergh! enfim... criança é criança).

A cerimônia foi simples e bonita e a bonequinha ganhou três madrinhas. Depois nós comemos tudo o que tinha lá e brincamos a tarde toda.

Foi uma coisa tão modesta... mas eu lembro de todas as emoções que eu senti. Eu estava gostando tanto... Tudo havia saído com planejado. Éramos crianças com idade entre 7 e 12 anos e, pela primeira vez, fizemos coisas muito importantes e sem ajuda dos adultos.

- Esse é o dia mais feliz da minha vida. - Eu disse.

Como eu falei antes, no "dia mais feliz" eu não fui à Disney, eu não ganhei uma Barbie, meu pai não me levou pra fazer um passeio espetacular, nem coisa do tipo. E, depois que eu cresci, eu comecei a ver o que realmente pode significar um "dia mais feliz". Quando a gente cresce, as nossas vontades e desejos, crescem junto. A forma como a gente vê as coisas ao redor, muda. Tudo muda. Menos o dia mais feliz da minha vida.

Quando nós somos crianças, as coisas são mais puras e mais simples. Quando eu tinha 8 anos, eu decidi que aquele era o dia mais feliz da minha vida e não me atrevi a mudar isso, porque naquele momento, a minha sabedoria era bem maior do que a que eu tenho agora.

Muito aconteceu desde aquele dia. Muito eu vivi depois. Muitos momentos tão felizes quanto. Mas, o batizado da boneca vai ser, para sempre, um calorzinho bom no meu coração, pois, toda vez que eu lembro, não tenho como não sorrir.

No dia mais feliz da minha vida, o tempo estava ameno, o sol estava gostoso, a folhagem estava da cor verde que eu mais gosto, tinha pessoas que eu gostava ao meu lado, eu comi um bolo feito de pão, leite e açúcar e adorei tudo aquilo.

Talvez eu tenha levado algo de tudo isso. Talvez essa minha atração pelas coisas mais simples venha daquele dia. Talvez, por isso, eu adore um céu azul, principalmente o de José de Freitas, talvez por isso eu goste da presença dos amigos, talvez por isso os sorrisos me conquistam.

Eu sei que virão dias felizes também, eles sempre vêm... Mas aquele... Vai ser SEMPRE o dia mais feliz da minha vida.

3 comentários:

O Profeta disse...

Há dias que ficam para sempre tatuados na nossa memória...


Doce beijo

Manoel Filho disse...

Pois é, eu participei dos batizados das bonecas da minha irmã e das amigas dela. Na verdade, eu participei da "festa do batizado" para ser mais preciso. Nessas ocasiões, não faltava e Bolo+Kisuco (aqeuele do pacotinho de 0,15 centavos) e eu gostava muito.. Agora, que história é essa de 3 madrinhas, dona Lanussa?? Batismo, Consagração e...

O Profeta disse...

Hoje não vou falar de amor
Hoje tenho saudade de canções
De uma voz perdida no tempo
Que me ensinou o sonho, as emoções

Hoje senti saudades da minha rua
Da casa fria e quente da ternura
Do cheiro a lenha, pão amassado
Dos abraços tidos de forma tão pura


Hoje convido-te a saberes um pouco de mim

Um resto de boa semana



Terno beijo