Chegamos ao shopping. Até então a
dúvida era: calça ou camisa? Fomos às calças, primeiro. Quer dizer, não às
calças, na loja onde tinha calças. Quer dizer, vocês entenderam!
Herlon queria uma calça jeans
azul clara, dessas aqui, ó.
Mostrei pra ele o tom de azul
mais claro que tinha, mas ele queria MAIS claro. Francamente, qual é a graça de
se comprar uma jeans novo, que já parece velho? Acho que vou perguntar pra
Britney Spears...
Bem, ele acabou desistindo da primeira
loja porque não quis esperar apenas duas lavagens pra ter o jeans-da-cor-azul-clara-exatamente-como-ele-queria. Na terceira loja... Escolhemos umas quatro calças, ele foi para o provador e eu
decidi ficar na fila do caixa porque, ora, véspera do dia dos namorados no
shopping recém-inaugurado. Quer dizer, a cidade tava toda lá!
Quando eu já estava chegando na
metade da fila, o Herlon aparece na porta do provador sem nenhuma calça na mão e
fazendo sinal de negativo com a cabeça. Aí eu saí da fila do caixa, já que a
gente não ia levar nada mesmo...
Mas eis que, já estávamos de
saída quando ele começou a olhar umas camisas, até decidir provar algumas.
De modo que eu retornei à fila,
indo para o último lugar, claro, e fiquei esperando o Herlon retornar. E fiquei
esperando o Herlon retornar... E fiquei REALMENTE ESPERANDO o Herlon
retornar...
Quando eu estava na última volta
da fila (sim, a droga da fila estava dando voltas), resolvi ligar pro Herlon. O
primeiro telefone deu sinal de chamada em espera. "Como assim, chamada em
espera? Será que o Herlon tá falando com alguém no telefone dentro da droga do provador?" Eu pensei. Liguei para o segundo telefone e chamou até cair na caixa postal.
Revezei mais algumas vezes entre um número e outro e sempre a mesma coisa. Ao
que eu dei as seguintes justificativas: ele esqueceu um no carro (embora o Herlon
nunca saia sem os dois celulares) e o outro, como é da TIM, deve estar sem
sinal no provador. Como a gente pensa coisas sem sentido quando está esperando
alguém na fila de um caixa...
Eu comecei realmente a me
preocupar quando já havia passado mais de trinta minutos que eu esperava o
Herlon sair daquele provador e nada. Quer dizer, que homem, pelo amor de Deus,
passa mais de trinta minutos pra provar três camisas e escolher uma?! Quer
dizer, não são eles mesmos que dizem que não têm paciência pra acompanhar as
mulheres nas compras porque elas demoram demais?!
Bem, foi aí que vários
pensamentos começaram a passar pela minha cabeça...
“E se ele ficou chateado de vir
comigo ao shopping e resolveu ir embora e me deixar aqui?”
“E se ele passou mal dentro do
provador e não teve como sair de lá antes de desmaiar?”
“E se ele desceu a escada rolante prendeu o pé, tropeçou, bateu a cabeça, desmaiou e ninguém sabe que ele
está acompanhado e levaram ele pro hospital?”
“E se ele acordou do desmaio mas,
perdeu a memória e não sabia quem ele era e que eu estava esperando por ele na
fila?”
Bem, quando eu fui pensar o
próximo “E se...” eu resolvi parar com aquela droga e ir procurar ele no
provador. O que eu estava tentando evitar até o último minuto porque, ora, eu
ia ser obrigada a interagir com as pessoas desconhecidas daquela fila e quem me
conhece bem sabe que, EU ODEIO INTERAGIR COM PESSOAS DESCONHECIDAS!
De modo que eu não tive outra
escolha. Passei umas três pessoas na minha frente, virei para o senhor que
estava atrás de mim e disse:
- Moço, o senhor guarda meu lugar
enquanto eu vou ali no provador resgatar uma pessoa que está presa lá dentro
com três camisas assassinas?
Mentira. Eu não falei a parte das
camisas assassinas.
Bem, então corri pra lá, porém, como era um provador MASCULINO, eu não ia poder entrar. Daí, virei para o
funcionário na porta e perguntei:
- Por favor, por acaso ainda está
aí dentro um rapazinho que está vestido em uma camisa pólo bege e bermuda, que
entrou com umas camisas?
Ao que ele perguntou:
- Rapazinho assim? (E colocou a
mão na altura do peito dele).
- Não. Assim. (E coloquei a mão
bem acima da minha cabeça).
- Ele tem nome?
- Herlon.
Então ele simplesmente
saiu gritando na porta dos cubículos:
- HERLON! HERLON! HERLON, VOCÊ
ESTÁ AÍ?
Quando finalmente o Herlon gritou
de volta, dizendo:
- Eu tô aqui!
E daí eu voltei a ouvir a voz
dele no provador, mas não falando comigo. E eu não tive outra reação a não ser
colocar a mão na testa e girar no calcanhares dizendo:
- Mas eu não ACREDITO que ele tá
esse tempo todo conversando no telefone!
E ao final do giro, eu dei de
cara com uma platéia, que acompanhava aquele enredo todo, me olhando com cara de “hummm... que constrangedor...
ele deve tá marcando um encontro com a outra...”
Então, o Herlon finalmente abriu
a porta do provador e saiu com o telefone em um ouvido e a mão livre pra cima,
dizendo:
- Tô vivo! Tô vivo!
Então eu olhei pra ele com cara
de “eu não acredito que eu cheguei a pensar que você tinha enrolado o pé da
escada, batido a cabeça e perdido a memória, quando você tava esse tempão todo
aqui, falando nesse telefone!”.
É claro que ele não leu isso na
minha cara. E ainda disse que viu minhas ligações para o outro celular, mas que
colocou no silencioso por causa do barulho. E é claro que, obviamente, ele escolheu uma das camisas, porque senão, obviamente, alguém teria
realmente parado no hospital sem memória, depois de rolar escada abaixo.
Porque, qual é? Eu estava com dor
nas pernas, com fome, esperando mais de meia hora por outra que ficou mais
da metade do tempo conversando no telefone!
E o Herlon até ia entender. Ele
sempre diz que eu fico violenta quando tô com fome, né amor?
E é claro que a gente foi comer
antes de ir comprar o meu presente que, por sinal, eu demorei menos de cinco
minutos pra escolher...
Bem, vamos esperar a aventura do próximo ano em que, segundo o Herlon, serei namorada-esposa.
Será bom começar o treinamento a partir de já?
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