Um dia desses, uma música do Zé Ramalho me fez voltar anos no tempo e sentir o cheiro de café coado no pano que minha avó fazia quando acordava de madrugada, todos os dias.
Acompanhado do café, vinha sempre o rádio ligado na rádio Livramento e eu já ouvi tocar várias vezes esta música, na programação de domingo.
E eu não sei como mas, a casa da vovó nos chamava a acordar cedo e aproveitar cada minuto do dia. Ora, era muita coisa pra fazer e o final de semana era curto.
Um dia, choveu e ventou muito forte e o pé de caju caiu e ficou, finalmente, do nosso tamanho. As raízes, agarradas ao chão, deixaram que ele vivesse mesmo assim e ali, nasceu uma casa com quartos, sala, cozinha... Um navio que atravessava os mares, ou só um pé de caju, mesmo...
O pé de goiaba que ficava aos pés do girau nunca viu uma goiaba madura. A gente, simplesmente, não tinha paciência de esperar!
E minha avó sempre foi briguenta e ranzinza mas, quando eu e minha irmã íamos passar as férias lá, ela bem que fazia canjica pra mim e comprava aquela banana de casca verde que eu só lembro de comer lá.
O vovô só acordava a gente fazendo umas caretas engraçadas e imitando a voz do Pato Donald e a gente morria de rir.
Os bichos viravam gente e ganhavam nomes próprios... Foi assim com a Miúda, a porquinha enjeitada e magricela. Aí veio o Júnior, o cabritinho enjeitado; a Kátia (carinhosamente chamada de Katinha), a cabra marrom e bonita e o Diego, um bezerrinho órfão que perdeu a mãe e quebrou a perna em um acidente com um caminhão.
Tirar manga do pé e comer na hora, banhar de açude, de riacho, subir em árvore e não saber descer, caçar criolí e muta no mato, com medo de se perder...
Parece mesmo que o tempo foi curto. A gente fez muita coisa, aprendeu muita coisa e, mesmo assim, parece que ainda ficou um tantão pra fazer.
Tem gente que diz que eu lembro de cada coisa que aconteceu há mil anos atrás... Eu gosto disso. É quando eu fico mais perto de tudo o que foi bom e continua sendo.
É isso aí.
P.s.: A música era esta aqui.
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