Tô colocando aqui o texto do Piauiês que teve alguns trechos publicados na revista Cidade Verde. Boa leitura!!
A Arlinda me pediu pra escrever um texto falando do nosso Piauiês, pra postar no blog dela do Vooz. Eu escrevi, ela colocou lá e as pessoas gostaram. Comentaram bem o meu texto. Então eu coloquei aqui pra vocês verem também. Espero que gostem.
Assunta aí! A Arlinda Monteiro, colega do curso de jornalismo, foi morar em São Paulo pra fazer especialização. E num é que acharam que a bichinha falava esquisito? Mandaram ela parar de falar esse tal de Piauiês e conversar direito. Hum... Hum-hum! Eles é que não sabem a valia que tem nossas palavras...
Durante o curso de jornalismo, nós falamos muito nessa dita-cuja Globalização que, pra facilitar mais a comunicação, todo mundo ia ter que falar parecido. De preferência, uma língua só. Tipo esse Inglês aí, metido a besta.
E apois... Se é pra todo mundo falar do mesmo jeitim, eu voto pro Piauiês ser a língua universal.
Marminino! Tem coisa mais bonita do que ver duas amigas se encontrando e uma dizer pra outra: “Quequiá, mermã?”.
E o nosso gargurau ? É comida de toda versidade. O povo que vem de fora, chega fica de olho grelado quando vê, bem na rosca da venta, uma Maria-Isabel quentinha, acompanhada de paçoca e um pedação decarne-de-sol em cima. Ui... Chega dá na fraqueza,depois.
E isturdia, eu encontrei um livro que se intitulava “A Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês”, do jornalista escrinche Paulo José Cunha.
E modos que, eu li que ele ajuntou todas as nossas expressões, as que só eram ouvidas e faladas por essas bandas e levei um espanto.
Arre égua!! Só a gente é que sabe falar essas coisas bonitas?? Porque, num é querendo fobar não, mas... A gente fala bonito, né não siá?
Foi aí que eu tomei entendimento de que o resto das pessoas tinha que experimentar também o sabor de nossa piauiensidade e resolvi usar o jornalismo pra isso.
O sucesso do rádio de pilha foi a revista Gargurau que nós produzimos na UESPI. Ela reunia o nosso Piauiês e um de comer de ótima qualidade. E no meio desse aribê de comida boa, nós colhemos as preferidas, aquelas que chega a gente come de capitão, e contamos suas histórias e receitas.
Fizemos pesquisas, visitamos o Mercado da Piçarra, onde a Paixão faz sarapatel, mão-de-vaca e buxada de bode como ninguém. Dizem que a comida é reimosa. Mas piauiense que é piauiense, num acha isso não.
Tá certo que, em pleno Bê-erre-ó-bró, comer um prato de baião-de-dois com sarapatel, mão-de-vaca e farinha, no pino do mei dia, é pra quem é muito apresentado. Mas também é bom que chia!
Então, a maior lição que tiramos de todos esses estudos é que, devemos valorizar o nosso quintal. O máximo que podemos. Assim como também temos que aceitar o modo de falar e os costumes dos outros brasileiros. Não há nada mais bonito do que esse taipeirão de sotaques, jeitos e expressões diferentes. E no final de tudo, somos todos a mesma coisa. Somos todos brasileiros.
P.s: Arlinda, manda esse povo parar de frescar com tua cara. Eles querem ser demais. São muito é bom de taca! Que marmota é essa?! Se tu te importar, tu num vale uma cagaita podre! Piauiense é piauiense... E boi num lambe!
Porrunchêro, mermanzinha! Quando tu der fé, eu tô por aí!
GLOSSÁRIO PIAUIÊS
Assunta: Presta atenção.
Bichinha, bichim: forma carinhosa de se referir às pessoas.
Hum... Hum-hum: onomatopéia com vários significados. Aqui eu quis dizer, “coisa sem propósito”.
Valia: importância.
E apois: E então.
Marminino: Ora essa!
Quequiá?: O que é que há? Como vai?
Gargurau: comida.
De toda versidade: de todo tipo.
Olho grelado: arregalado, fixo num ponto.
Rosca da venta: na frente, na cara.
Maria-Isabel: um arroz, tipo carreteiro, feito com pequenos cubos de carne-de-sol muito bem temperados.
Paçoca: depois de frita a carne-de-sol é pisada no pilão com farinha de mandioca e cebola até ficar em fiapos.
Carne-de-sol: carne colocada pra secar no sol.
Dar na fraqueza: bateu forte (a comida).
Isturdia: outro dia.
Iscrinche: coisa ou pessoa elegante, alegre.
Modos que: de modo que.
Ajuntou: reuniu
Espanto: susto.
Arre égua: caramba!
Fobar: contar vantagem.
Siá: Forma sincopada de Sinhá, que por sua vez vem de Senhora. No Piauí é palavra de uso restrito das mulheres ou dos gays.
Sucesso do rádio de pilha: acontecimento de sucesso.
De comer: comida.
Aribê: grande quantidade.
Capitão: comida amassada com as mãos.
Paixão: cozinheira famosíssima do Mercado da Piçarra, bairro da zona sul de Teresina.
Sarapatel: prato feito com os miúdos do bode ou do boi.
Bê-erre-ó-bró: os meses terminados em BRO são os mais quentes do ano (setemBRO, outuBRO, novemBRO, dezemBRO).
Pino do mei dia: meio-dia.
Apresentado: exibido.
Bom que chia: bom demais.
Taipeirão: grande quantidade.
Frescar: Ficar de “frescura”, chatear, mexer com alguém.
Só quer ser: usa-se para criticar pessoa que quer passar pelo que não é.
Cagaita podre: Deliciosa frutinha doce-azeda, muito comum nos cerrados do Piauí e do Centro-Oeste. Com um detalhe: a fruta é laxante, por isso só deve ser consumida gelada, senão dá uma disenteria daquelas de assoviar por trás. “Fulano? Hum, aquilo num vale uma cagaita podre”. Ora, se quente a fruta já provoca esse tiroteio, caucule uma cagaita... podre.
Bom de taca: pessoa que fez alguma coisa errada.
Marmota: coisa esquisita.
E boi num lambe: e não tem pra ninguém.
Porrunchêro: pois um cheiro.
Dar fé: perceber.
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