sexta-feira, 26 de junho de 2009

Arlinda



Hoje eu vou escrever sobre a Arlinda. Quem é a Arlinda?

É o que eu vou dizer aqui...

Eu conheci a Arlinda na universidade. Nós passamos 5 anos juntas no curso de Jornalismo e até fomos amigas em um pedaço desse tempo.

Essa menina sempre deu o que falar na nossa turma. O temperamento dela era algo meio que parecido com aqueles fenômenos da natureza que fazem com que o tempo mude de repente. Nada do tipo de sol a chuva, não... Era de sol a nevasca e de uma brisa leve a um furacão. Ela brigou com praticamente todo mundo da nossa turma e falava o que pensava na cara de qualquer um, mesmo quando isso não era muito conveniente.

Com mais ou menos um ano e meio estudando juntas a Arlinda me fez passar uma das maiores vergonhas de que eu tenho lembrança. Nós ficamos de dupla em um trabalho de informática. Ela havia feito a parte dela e me entregou para que eu pudesse completar com a minha. Só que eu confundi as datas de entrega e esqueci de fazer. Esqueci mesmo. Era final de semestre e os professores tem o terrível costume de passar todos os trabalhos ao mesmo tempo. Eu estava concentrada em um deles e esqueci o de informática.

Quando eu cheguei pra aula, a Arlinda veio me perguntar se eu tinha levado o trabalho e eu respondi que tinha esquecido de fazer. Então, ela colocou em prática o que me deixa mais desconcertada de todas as coisas que me deixam desconcertadas: ela começou a gritar.

Eu não sei brigar. Eu não sei gritar com ninguém. Eu queria bem saber, mas eu não sei. Senão, eu teria dito todas as palavras malcriadas que passaram pela minha cabeça, no mesmo tom em que ela falou ali comigo.

Eu fiquei meio que paralisada, sem ação, travada. Porque é isso que acontece quando alguém briga comigo. Eu fico nervosa e com um certo pânico.

Então eu tive que engolir todas essas coisas chatas que eu estava sentindo e fingir que não tinha um monte de gente olhando aquela cena toda. Aí eu só virei as costas e deixei ela gritando ali sozinha.

É claro que ela tratou de atrair mais atenção e começou a chorar como se fosse o fim do mundo. Como se a professora fosse um dragão de 3 cabeças e não fosse entender se a gente dissesse pra ela: "Olha, professora... a gente não conseguiu terminar o trabalho a tempo. Tem as outras disciplinas e tal... Fim de semestre... A senhora pode dar outro prazo pra gente?" E foi o que aconteceu! A professora me deu um prazo novo, já que a Arlinda fez com que as pessoas saíssem atrás de um computador pra ela poder terminar o benedito do trabalho, pra ela entregar sozinha.

E eu fiquei lá... A megera, a irresponsável, a inútil... Como se eu tivesse acordado naquele dia e resolvido: "Hoje eu não vou fazer esse trabalho de informática coisa nenhuma. É! Eu vou é assistir TV o dia todo, ler umas revistas e fazer as unhas. Tô nem aí pra Arlinda. E num tô nem aí pra mim também, porque o trabalho também é meu."

É... Até parece que eu fiz isso, ao invés de acordar cedo e ir em uma casa de deteção para menores infratoras entrevistar a diretora e saber como era a rotina dessas meninas em um lugar como esse.

Eu fiquei triste e com uma vontade de chorar tremenda. Mas eu não fiz isso. E só eu sei como foi difícil, já que eu sou a maior chorona de todos os tempos, se vocês querem saber. E depois eu senti raiva também. Muita raiva. Na verdade MUITA raiva. Uma raiva que eu nunca senti antes.

Mas o que mais me chateava era o fato de, no dia seguinte, a Arlinda agir como se nada tivesse acontecido. Era como se ela totalmente ignorasse os meus sentimentos, como se eles não valessem nada.

Eu não sou como ela. Meu coração se fere e demora a cicatrizar. Mas ele cicatrizou. Nada como o tempo, né?

E eu comecei a achar a Arlinda simpática e até... amigável.

Nós trabalhamos juntas. Nós apresentamos um programa de variedades na Rádio Difusora e passamos a ficar muito tempo juntas. Foi o tempo em que me senti mais amiga da Arlinda. Falo de ser amiga, mesmo. Eu contava a minha vida e ela me deixava saber algumas coisas sobre a dela. Sempre achei Arlinda meio misteriosa. E um tempo depois eu pude ter certeza absoluta disso.

Foi durante esse tempo também que o curto tempo dessa amizade, se acabou.

A Arlinda foi noiva por 5 anos com um cara que ela conheceu na escola. Gastou uma fortuna com chá-de-panela, mobiliou um apartamento e dias antes do casamento ela desistiu de tudo. Foi aí que ela começou a experimentar a liberdade contida durante 5 anos e namorou como nunca.

Por nunca conseguir ficar sozinha, ela sempre quis também que nós, as amigas encalhadas, tivéssemos companhia como ela.

Então ela fez coisas do tipo, entregar meu número de telefone pro rapaz desconhecido que sentou ao lado dela no ônibus, além de inventar que um colega dela de trabalho estava a fim de mim. E a confusão começou aí...

Eu acreditei nesse "clima" que ela inventou. Ela meio que chegou pro cara e disse que eu tava a fim dele e chegou pra mim e disse a mesma coisa. Então eu comecei a alimentar aquilo, cheguei a conversar com o garoto, nós marcamos de se encontrar e tal... E no dia que a gente se encontrou ele, tipo, totalmente me ignorou. Eu fiquei chateada e magoada e ela viu isso tudo. E não achando pouco, ela ficou com o menino em um evento em que eu estava presente, não fez questão de ser discreta e depois me contou isso como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

E eu fiquei profundíssimamente magoada com o fato de eu estar ali, quieta na minha e ela ter decidido fazer escolhas por mim, brincar com meu destino, com meus sentimentos e inventar essa história toda pra, no final, eu sair prejudicada.

Eu estava passando por um período meio difícil comigo mesma. É quando a gente está tomando consciência de que está ficando adulta e não tem como atrasar mais isso. E você começa a se perguntar quem é e porque não está contente com você mesma. Eu não precisava que a Arlinda me arranjasse um meio de levar um belo de um fora naquele momento e arrasar ainda mais a minha pouca autoestima.

As minhas decepções com essa garota não pararam por aí. E não só por coisas que me afetaram diretamente mas, com o que ela fazia de mal para as outras pessoas, principalmente se elas fossem minhas amigas.

Eu fiquei com um rancor muito grande dela. Eu sei que ela vai ler isso e pelo que eu conheço dela ela pode até ficar surpresa com tudo isso que eu estou dizendo aqui, porque parece que ela nunca percebia o efeito ruim que ela deixava nas pessoas. Quer dizer, ela até podia perceber, ela não é burra. Ela sabe que toda ação tem sua reação. Ela até pedia desculpas pra todo mundo a cada vez que a gente se reunia pra confraternizar ou coisa do tipo. Ela fez isso na nossa aula da saudade, na semana da formatura. E ela sempre dizia que sentia muito e que ia mudar e tal... Sinceramente, Arlinda, eu nunca acreditei de verdade nessas palavras.

De uns tempos pra cá, eu deixei de tentar entender essa alma atormentada e só tenho acompanhado de longe (numa distância segura, que eu num sou besta) a intensidade com que ela tem vivido. Eu falo com ela amigavelmente, mas não me sinto amiga e, pelo menos agora, eu não tenho vontade de ser. Talvez eu ainda tenha medo dela. Nós totalmente temos sintonias muito diferentes. Quem sabe algum dia, né Arlinda? Um dia talvez eu deixe de te considerar só colega de curso e a gente volte a ser amigas novamente.

E dessa observação toda que eu tenho feito eu percebi que, bem, tem uma pessoa ali dentro. Tem uma pessoa, tem um coração e uma cabeça doidinha. Ela está meio perdida (na verdade ela sempre foi sem rumo mesmo...) e está tentando encontrar um caminho, o caminho dela. O negócio é que ela escolhe muitos deles, não tem paciência de chegar até o final, ela mesma se machuca, parece que ela não gosta dela.

Arlinda quer o que todo mundo quer. E ela tem tudo pra conseguir. Ela quer um amor, quer amigos, quer família. Ela quer casar e ter filhos e se dedicar a eles. Ela vai saber fazer isso muito bem. Ela pode até dizer que não... Como eu disse, não tenho tido tanto contato com ela pra saber se ainda é o que ela quer. Ela pode dizer que não porque já noivou, já namorou muito e casou também! Não deu certo... Ela se dedicou demais a uma pessoa que não tinha a mesma intenção. Ela gastou energias em uma coisa que, todo mundo via, já estava fadada ao fracasso. E depois disso tudo ela pode dizer que agora ela quer é saber de estudar e trabalhar e ser independente e se dedicar mais a ela e blá, blá, blá... Ela sempre disse isso e nunca chegou a executar o plano.

E embora eu tenha visto que ela amadureceu um bocado e aprendeu com os tropeços que ela deu, menina... ainda tem que ter um pouco mais de paciência com a vida e olhar mais para dentro de você.

E hoje eu também a admiro, porque ela teve coragem de terminar com o namorado, vender o carro, deixar o emprego, a família, os amigos e ir pra São Paulo se aventurar naquele hospício de proporções gigantescas.

Arlinda, apesar de tudo, eu te desejo sorte. Desejo também que você crie juízo e veja que se você parar um pouco pra tomar noção do que acontece dentro de você, de se conhecer, de saber o que você quer de verdade (hummm... é... isso se chama sensibilidade... ou coisa assim), você vai encontrar o caminho certo e vai ver que a entrada desse caminho só estava um pouco coberta por alguns galhos e que você não viu porque passou por ele rápido demais (e mais de uma vez, com certeza).

Boa sorte pra você aí. Eu espero que dê tudo certo mesmo. Espero que você se torne maior do que já é e... pelo amor de Deus... não faça eu me arrepender dessas últimas palavras. Vai ser um mico muito grande!!

Juízo macaca!!
É isso aí!!


2 comentários:

Arlinda Monteiro disse...

iiiiiiiiiiiii

Tu desenterrou cada história...rs... Dessas aí eu só não confirmo que eu inventei a história do meu colega de trabalho. A culpa foi dele e não minha. Ele queria e na hora furou...

Mas deixando o passado de lado... Obrigada por torcer por mim!!!

Sucesso pra gente!!!

Lanussa Ferreira disse...

Bem, isso aí foi ele que me contou com todos os detalhes. Na verdade, ele fez tua caveira pra mim, se você quer saber...
Mas meu coração já se abrandou e eu espero mesmo que tu encontre o teu caminho.