sábado, 14 de fevereiro de 2009

O que é a felicidade.


No último fim de semana, dois amigos meus, que moram bem longe um do outro e não se conhecem, vieram me falar de uma mesma coisa. Os dois estavam se sentindo estranhos. Eles sentiam tristeza, ficavam mal-humorados de repente, sentiam uma angústia, um vazio, tudo isso, sem explicação. Eles não sabiam me dizer de onde vinham esses sentimentos e nem porquê.

Eu perguntei como estava a vida de cada um e os dois, deram respostas parecidas. A família estava bem, os estudos estavam bem, eles não tinham motivos aparentes para se sentirem assim e isso acabava piorando a situação.

Então eu, no alto da minha sabedoria-milenar-de-parachoque-de-caminhão, disse para eles que isso é uma coisa normal da vida. Todo mundo sente isso ao menos uma vez durante a sua existência. É claro que, no caso das mulheres, isso recebe o nome científico de TPM e acontece com uma freqüência maior mas, pensem bem, se os homens também tivessem esse troço todos os meses, o mundo não teria passado de Adão e Eva, não é mesmo? Tem que ter uma organização na coisa toda...

E isso é verdade mesmo. O ser humano é um bicho muito esquisito e complicado. Nós procuramos a felicidade o tempo todo, é como uma caça ao tesouro. Um tesouro muito precioso. O problema é que, quando nós o temos na palma de nossas mãos, simplesmente não conseguimos enxergar e, quando um ou outro consegue, ele ignora aquilo descaradamente e vai atrás de procurar sarna pra se coçar porque, o que parece, é que essa busca desenfreada pela felicidade é que justifica a vida.

Nós nos damos motivos inexistentes para a infelicidade. Isso é meio doido. Parece que ninguém se acha digno de ser feliz porque, quando você finalmente tem consciência de que é, começa a questionar se merece! Putz! Já vi um povo pra gostar de problema, viu?

Esses dois garotos estavam (e estão) felizes, sem problema algum na vida, tudo uma maravilha. Então, eles resolveram inventar alguma coisa mais emocionante pra passar o tempo. Um resolveu se perguntar se merece essa felicidade que está sentindo e o outro, resolveu criar um complexo com o peso dele e agir como se fosse uma modelo adolescente de 16 anos e se alimentar só de água durante todo o dia. E olha só a coisa mais maluca... Ele têm consciência disso tudo! Ele SABE que isso é coisa da cabeça dele. Ele mesmo me disse isso com todas as letras! Vai entender...

Esse negócio de felicidade, é como o amor. A gente procura, procura, procura e, quando tá na nossa frente a gente, automaticamente, vira a cara. Fica inventando uma complicação medonha sobre essas coisas, mesmo sendo algo absurdamente simples!

Um desses meus amigos me disse: "Está tudo tão bem, que me dá um medo. Hoje pode ser assim e amanhã pode não ser mais..."

Eu sei o que ele está sentindo. Eu já senti isso também (e pasmem! Fora do meu período de TPM). Mas, o que eu tento todos os dias colocar na minha cabeça é que, felicidade eterna não existe. É isso mesmo. Lamento desapontar os que achavam isso. E eu não estou falando porque eu decidi que é assim.

Há quase dois anos atrás, uma amiga minha me deu para ler, a
entrevista de um psicólogo na revista Veja. O americano Steven Hayes, de 57 anos, falou sobre esse negócio de felicidade. Ele disse que felicidade não é normal, a dor é que é. Isso é um absurdo! Você pensa. Mas eu acho que ele está totalmente certo. Como? Vamos seguir o raciocínio dele.

Steven Hayes diz que, felicidade é vista sempre como a ausência completa de dor. Quer dizer, o indivíduo só é feliz de verdade, quando não sente dor alguma e nem passa por decepções. Ora, vejam só, nessa vida é impossível você não passar por esses tipos de emoções. Nós não podemos ter o controle de tudo o tempo todo e evitar a mágoa, a chateação, a tristeza, a perda... Por mais que tudo esteja bem, uma hora ou outra, acontecem coisas que a gente não espera e não tem explicação. Como naqueles momentos em que você perde o controle da situação por alguns segundos, deixando a porta escapar e bater no dedinho do pé. Nossa, como isso dói, não é? E você fica se perguntando como foi que aquilo aconteceu, mas não tem resposta! Simplesmente aconteceu! Você não pode ter o controle de tudo sempre. A vida é isso. A dor é intensa, mas uma hora ela passa. Sempre passa.

Então, a felicidade que realmente existe, são momentos efêmeros que vêm e vão, como uma reunião com os amigos, uma viagem muito esperada, uma festa surpresa, o nascimento de um filho, irmão, sobrinho... Esses momentos não duram para sempre, a não ser na memória da gente. E a qualquer hora, você pode deixar a porta escapar e bater no dedinho do seu pé, isso é inevitável!

Nós temos que aproveitar esses pedacinhos de felicidade e deixar de se preocupar com a dor que a gente vai sentir mais na frente. Deixar de se perguntar: Será que eu mereço? Ora, a não ser que você tenha passado a perna em alguém para estar se sentindo feliz, você merece sim. Todo mundo merece.

Eu sei o que esses dois estão sentindo. Não é coisa para se preocupar, não é nada grave. Isso aí só é aquela perturbação que dá na gente quando estamos passando para a vida adulta e não sabemos como agir. A gente pensa que é uma coisa muito difícil porque achamos que, ser adulto, é ganhar um monte de conta e problema e que temos a obrigação de conseguir um emprego com salário inicial de cinco mil reais. E na verdade, não é!

A sociedade moderna coloca essa maluquice na cabeça da gente, mas ela está mentindo. Descaradamente. Não acredite nela. Ser adulto é ter determinação para ser o que você quiser e, ser feliz, acima de tudo, em cada gotinha de tempo em que você esteja fazendo uma coisa que goste muito, sem se preocupar com o que vai acontecer de ruim mais lá na frente porque, sobre essas coisas, a gente não tem controle, por mais que a gente tente.

Eu sei que eles vão ficar bem. Todo mundo fica.

E eu vou deixar aqui pra vocês, a letra de uma música de Tom Jobim e Vinícius de Moraes que eu gosto tanto:

A Felicidade
(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

"Tristeza não tem fim, felicidade, sim...
A felicidade é como a pluma

Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar...

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval,
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento do sonho
Pra fazer a fantasia de rei ou pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila, depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
(...)

P.s: Apareceram mais dois pra completar aqui a lista. Por isso eu agora vou ali procurar uns incensos pra acender e o Banho da Cigana Poderosa porque o negócio tá brabo e eu não quero que essa "onda" pegue em mim, não. (rsrsrs)


É isso aí!

P.s. 2: Este texto foi escrito para a coluna Doida da Lua no blog 100 Eira Nem Beira, do amigo Manoel Filho, em 28/05/08.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

É assim...


- Nenhuma pessoa merece tuas lágrimas, e quem as mereça não te farão chorar.

- Só porque alguém não te ama como tu desejas, não significa que não te ame com todo seu ser.

- Um verdadeiro amigo é quem te pega da mão e te toca o coração.

- A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca o poderás ter.

- Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estejas triste porque nunca sabes quem poderá enamorar-se de teu sorriso.

- Podes ser somente uma pessoa para o mundo, mas para alguma pessoa tu és o mundo.

- Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo.

- Quem sabe Deus queira que conheças muita gente enganada antes de que conheças à pessoa adequada, para que quando no fim a conheças , saibas estar agradecido.

- Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu.

- Sempre haverá gente que te machuque, assim, o que tens de fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso com em quem confias duas vezes.

- Converte-te em uma melhor pessoa e assegura-te de saber quem és antes de conhecer mais alguém e esperar que essa pessoa saiba quem és.

- Não te esforces tanto, as melhores coisas acontecem quando menos esperas...

(Gabriel García Marquez)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Casa da vovó...


Casa da vó é tão bom, né? Não que a minha vó seja assim, aquela criatura delicada que fala baixinho, faz um monte de bolinhos pros netinhos e deixa eles fazerem o que quiserem... Muito pelo contrário! Minha vó nunca foi chegada a fazer paparicos em crianças, andava sempre com a cara fechada e brigava com a gente o tempo todo. A gente adorava isso! (rsrs)

Quer dizer, a gente era criança e criança não se importa muito com certas coisas. A gente queria saber mesmo era de brincar e acabou se acostumando com o jeito esquisito da minha vó.

Em compensação, havia o meu avô, que gostava de brincar com a gente, fazer bichinhos de palha de côco e chapéu de folha de planta. Ele acordava a gente imitando o Pato Donald e deixava a gente ir com ele quando ia levar o cavalo pra pastar.

Esses são meus avós maternos e eu, meus irmãos e meus primos adorávamos passar dias na casa deles, lá em José de Freitas, cidade que fica a 47km de Teresina.

Quando eu ainda era bem pequena e entrava de férias no colégio, a minha mãe me mandava logo pra casa da minha vó, pra passar pelo menos uma semana por lá. Até então, eu só tinha uma irmã mas, ela era bem mais apegada à mamãe do que eu, talvez também por ser mais nova. Então eu ia sozinha mesmo...

Havia uma prima muito querida, que eu gostava muito e nós achávamos o máximo fazer aniversário no mesmo dia. Quer dizer, eu pensei logo em nascer no dia do primeiro aniversário dela e, acho que isso uniu bastante a gente.

A minha vó, por mais que fosse briguenta e mal-humorada, cuidava da gente direitinho. Quando minha irmã cresceu mais um pouco, ela também ia comigo passar férias na casa da vovó, sem a mamãe.

Vovó comprava banana de casca verde pra gente. Sempre que a gente ia, ela comprava. Essa banana é uma delícia... Ai... eu consigo sentir até o gosto...

Quando vovô trazia milho verde da roça, ela fazia canjica pra mim. Hummm... Canjica...

Eu e a Larissa tínhamos copinhos e pratinhos personalizados. Havia bem mais netos e tal, mas só a gente tinha esse privilégio.

A casa da vovó era coberta de palha, as paredes eram de barro e o chão batido. Eu adorava aquela casa.

Durante a noite, a gente escutava uns barulhos esquisitos de bichos caminhando no telhado e como a casa dormia inteiramente mergulhada no escuro, era aterrorizante (rsrsrs). Isso era divertido também. Ainda não tinha energia elétrica. A gente passava a noite à luz de lamparina e eu juntava todos os primos em volta de alguma delas (de preferência, longe dos adultos) pra poder brincar com o fogo.

Os bichos eram um dos nossos passatempos preferidos, principalmente os enjeitados. Enjeitados são aqueles que a mãe não quis quando nasceu. Tipo, ela meio que abandona o filhote e não quer amamentar nem nada.

O primeiro deles foi o Júnior. Júnior era um cabritinho branco, rajado de preto, que era uma fofura. Eu lembro dos primos todos em volta dele, uns dois dias depois que ele nasceu. E eu fiquei penalizada quando vovô disse que ele era enjeitado. Coitadinho...

A gente vivia perto da casinha do Júnior e eu nem lembro direito quando e quem colocou esse nome nele. Mas era assim mesmo. Quando a gente se dava conta, todo mundo já tava chamando os bichos por nome que a gente nem reparava de onde saía.

O cabritinho era o nosso xodó, porque era pequenininho e gostava de brincar com a gente. Estava sempre onde a gente estava. Talvez porque sempre tinha alguma coisa pra ele comer. Tinha uma planta que nascia em outra maior, principalmente nos pés de caju. Eu não sei como, mas ela aparecia nos galhos da árvores e tinha a folha lisinha e fria. Nós colocamos o nome dela de maquiagem-gelada (rsrs). Isso porque era gostoso passar a folhinha gelada no rosto e refrescar um pouquinho do calor. A nossa maquiagem-gelada, era comida de bode. O vovô ensinou pra gente. Então, como nós sempre estávamos em cima de algum pé de caju, sempre tinha maquiagem-gelada pro Júnior comer.

Bem, um dia ele cresceu e já estava até dando chifrada em bumbum de gente (inclusive no meu...), então o vovô achou que já era hora de cozinhar o cabritinho. Nós ficamos tristes e fizemos um combinado de não colocar um pedaço daquela carne na boca... e, bem... a fome falou mais alto.

Certo dia, meu tio apareceu lá com um mambira. Pra quem não sabe, mambira é como as pessoas do interior chamam os tamanduás.

Ele era filhotinho e também a coisa mais fofa que eu já tinha visto na vida. Hoje eu sei que é errado criar esse tipo de animal, ainda mais tão novinho assim... Mas, gente do interior, ainda mais naquela época, não tinha muito conhecimento disso.

O fato é que a gente se apaixonou pelo mabira, que tomava leite numa latinha de sardinha e gostava de passear com gente. A primaiada se juntava, chamava ele e o bichinho saía correndo atrás da gente.

Um dia, porém, nós chegamos lá pro fim de semana e tivemos a triste notícia de que um vizinho malvado tinha roubado o mambirinha e comido o pobrezinho...

Daí, apareceu a Miúda. Miúda era uma leitoinha enjeitada que, por não ter sido amamentada pela mãe, ficou magrinha, magrinha e a minha tia, que resolveu cuidar dela, achou até que a coitadinha não escapava.

A Miúda também gostava de brincar com a gente e estava sempre por perto. Era como um cachorrinho... E com o tempo ela também foi ganhando peso... E vocês já sabem o resto, né? Panela! Nunca vi povo mais carnívoro!! Aff...

O Capoeira era um cavalo marrom e muito bonito que o vovô tinha. A gente colocou esse nome sem querer. Capoeira era o lugar onde o vovô deixava o cavalo pra pastar e a gente achou que fosse o nome do cavalo! Então ficou assim mesmo: Capoeira. E até que ele ficou bastante tempo com a gente porque, enfim, cavalo não se come!(rsrs)

A Kátia era uma cabra já crescida e muito dócil. A Letícia, minha irmã mais nova colocou esse nome nela porque gostava desses nomes chiques (rsrs). Mas nós a chamávamos carinhosamente de Katinha.

A Katinha parecia mais outra criança que brincava ali com a gente do que com uma cabra. A gente gritava o nome dela e ela atendia! E nós choramos muito quando meu avô vendeu a Kátia pro nosso tio... Enfim, nada dura para sempre, não é mesmo?

Então chegou o outro Júnior. Ele não era enjeitado e já estava bem crescido. Mas ganhou a nossa simpatia e nós ganhamos a dele também, de modo que ele estava sempre por perto e gostava de brincar de pega-pega com a gente. É claro que, era ele que sempre ficava (rsrs).

Nós conhecemos o Diego de uma forma muito triste... Diego era um bezerrinho que foi atropelado com a mãe dele na rodovia. A mãe do Diego morreu e ele teve fratura exposta. O osso da perna dele ficou todo pra fora e eu ficava com tanta pena toda vez que olhava pra ele... O bezerrinho teve que ficar deitado por um bom tempo, até que como um milagre, ele um dia conseguiu se levantar. Ele mancava um pouco ainda, mas andava! E acho que, pelo fato de ter ficado tanto tempo praticamente dentro de casa, deitado e recebendo comida na boca, ele ficou mansinho, mansinho e quase não ia pra longe. Ele gostava tanto que, quando meu avô falava com ele, ele respondia! Claro que, na língua dos bezerros, né? Porque, tá certo que a perna dele sarar, foi um milagre mas... falar Português, já é demais, né?! (rsrs)

E um dia eu coloquei na cabeça que todas as galinhas do terreiro tinham que ter um nome, porque elas poderiam ficar enciumadas por serem tratadas como galinhas normais já que, esses outros animais aí de cima tinham sua própria identidade.

Então eu saí pelo quintal, apontando cada uma e batizando a penosa com um nome escolhido cuidadosamente, de acordo com a sua personalidade e signo do zodíaco. Mentira. Eu dizia o primeiro nome que vinha na minha cabeça.

Clotilde, Maricota, Amanda, Carlota... Cada uma ganhou um nome. E no fim de todo esse processo... Eu não sabia mais quem era quem. E que que tá me olhando com essa cara aí?! Elas eram todas parecidas e, além disso, o que vale é a intenção. E pra falar a verdade, eu tenho absoluta certeza de que cada uma decorou seu nome. Ah! Pera aí, né?! São galinhas, pelo amor de Deus! Elas não precisam ter nome!

Ai, ai... Eu gostava muito desse tempo... Hoje a casa tem paredes sólidas de tijolo, telhas ao invés de palhas, a energia elétrica chegou faz tempo... A expansão da cidade não deixou mais espaço pra criar porco, nem bode, nem bezerrinho... Não tem mais o pé de caju pra subir, nem maquiagem-gelada... Os primos todos cresceram, tiveram filhos, viraram roqueiros esquisitos ou maloqueiros... Até a vovó ficou mais simpática e (pasmem!) carinhosa! (rsrs)

Mas eu tenho pelo menos a lembrança, certo? E ela vai estar aqui sempre...